Em terapia

abril 4, 2009

Carmina

Filed under: textos — coramade @ 7:07 am
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Carmina era uma mulher sutilmente poderosa.
Tinha paciência de enxadrista e nessa paciência residia a sutileza de seus gestos.
O poder, bem, o poder era o querer. Um querer infinito.
Gostava da arte de lapidar as pessoas. Encontrava alguém de bom coração e algumas confusões e saía em busca da resolução completa dos problemas alheios.
Diziam os especialistas que ela tinha os seus problemas insolúveis, e por isso se ocupava dos outros.
Mas nessa busca por resoluções alheias ela acabava tendo esse poder de fazer com que as pessoas se sentissem bem perto dela.
Eram procissões repletas de problemas se aglomerando no quintal de Carmina.
Numa noite, após todos os atendimentos, sentiu falta de um abraço.
Um carinho de alguém que quisesse apenas o seu calor, sem querer o seu corpo.
Sentiu-se sozinha, deprimiu-se. Foi até o quintal e não viu nem vivos e nem mortos.
Entrou em casa e suicidou-se.
Foi isso que atrapalhou o seu processo de canonização.

(MAY 15, 2008)

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